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Tendências Globais de Capital Humano 2023 revela o fim de um mundo estável no trabalho

Estudo anual promovido pela Deloitte aponta que ainda há impactos da pandemia no mundo do trabalho e que as fronteiras estão diminuindo. A partir disso, especialistas comentam qual o papel das organizações e dos colaboradores nesse processo.

Sua companhia ainda sente os impactos da pandemia no ritmo de trabalho? A desaceleração do crescimento econômico, o medo de uma recessão iminente e o aumento do custo de vida colocam ainda mais pressão sob as organizações. Tudo isso traz novos desafios para as empresas, em um ambiente mais dinâmico e sem limites. É o que revela o estudo Tendências Globais de Capital Humano 2023, elaborado pela Deloitte.

Em 2023, o levantamento completou sua 13ª edição e destacou o tema “Novos fundamentos para um mundo sem fronteira”, que aborda a importância das organizações e dos empregados atravessarem esse cenário juntos. Isso deve ser feito mediante um novo conjunto de fundamentos para navegar no mundo cada vez mais globalizado.

A pesquisa contou a participação de 10 mil pessoas e 1.500 altos executivos e membros de conselhos de administração. Eles destacam que as fronteiras que tradicionalmente governavam as regras do trabalho não existem mais.

Para complementar as análises trazidas pelo estudo, o painel da última edição do Conexões LG 2023, “Tendências e Desafios de Capital Humano”, agrega ainda mais insights a esse panorama.  Daniela Diniz, colunista HSM e GPTW, Genesson Honorato, especialista em Inovação para RH e TEDx Speaker, Patricia Pugas, Diretora Executiva de Gestão de Pessoas do Magazine Luiza, e Leandro Bonetti, CEO da Propay, debateram o tema. 

Confira as tendências globais de capital humano para 2023 e veja como se preparar para esses desafios com diversos especialistas.

Fim da era mecanicista

No século passado, uma visão mecanicista do trabalho predominava, na qual se assumia que o trabalho era fixo, repetitivo e organizado em tarefas distintas. Os esforços de transformação se concentravam em melhorar o custo e a produtividade, buscando entregar os mesmos resultados com maior agilidade e eficiência.

No entanto, nos últimos anos, esses modelos têm sido desafiados à medida que as organizações e os colaboradores lidam com uma crescente descontinuidade e ruptura. Afinal, observa-se uma mudança significativa à medida que os limites tradicionais desaparecem. Isso significa que processos rígidos e categorias de funções estão se tornando menos relevantes.

As companhias agora têm a liberdade de experimentar, inovar e definir novos fundamentos. E os empregados estão vendo uma mudança nas regras de engajamento, permitindo colaborações mais amplas e significativas.

Para isso, como reforça Patricia, é responsabilidade das organizações e dos colaboradores questionarem suas suposições anteriores e abraçarem um novo conjunto de princípios adequados a um ambiente dinâmico e ilimitado. Isso permite que ocorra o abandono da noção de um mundo estável e segmentado.

O poder da curiosidade

Para se destacar em um mundo em que os limites estão cada vez menos sólidos, é essencial que as empresas e seus funcionários cultivem a curiosidade. O fato é que se deve encarar cada escolha como uma oportunidade de experimentação que impulsionará o impacto e resultará em novos conhecimentos.

Olesea Azevedo, Chief People Officer da AdventHeal, em entrevista concedida à Deloitte, reforça a necessidade de estimular as equipes a se arriscarem no novo. “Demos permissão às nossas equipes para tentar coisas novas, falhar rapidamente, aprender com isso e seguir em frente. Como resultado, temos uma série de novos empreendimentos e estratégias”.

Nesse sentido, de acordo com a pesquisa da Deloitte, 59% dos entrevistados esperam se concentrar na reimaginação nos próximos dois a quatro anos. Isso representa um aumento de 2x em relação aos níveis pré-pandêmicos (conforme relatório de 2021).

O estudo identifica três tendências principais que exemplificam como estimular essa curiosidade:

Extinção de cargos

As fronteiras que antes demarcavam as funções, agrupando tarefas e classificando os funcionários em papéis específicos, agora restringem o potencial organizacional em termos de inovação e agilidade.

Muitos estão explorando a abordagem baseada em habilidades, em vez de cargos, para tomar decisões relacionadas à força de trabalho. Ao se desprenderem de suas posições específicas, os colaboradores têm a oportunidade de aproveitar melhor suas capacidades, experiências e interesses, impulsionando tanto seus próprios resultados quanto os da organização.

Genesson aponta a necessidade de abandonar a visão de olhar as pessoas apenas como funcionário e sua determinada função e olhá-la como um todo, o que permitirá o desenvolvimento de skills diversas.

A tecnologia como potencializador da capacidade humana

À medida que a sociedade avança, a fronteira entre humanos e tecnologia como entidades distintas está gradualmente desaparecendo. Novas tecnologias estão sendo introduzidas nos locais de trabalho não apenas para automatizar e complementar o trabalho humano, mas também para aprimorar o desempenho individual e coletivo.

As organizações orientadas para o futuro estão explorando maneiras de aproveitar a tecnologia de forma a inspirar os colaboradores a alcançarem seu potencial máximo e a realizar um trabalho ainda mais eficiente.

“A tecnologia, sem sombra de dúvida, é um dos maiores aliados para transformar o ambiente do trabalho, principalmente em relação ao desenvolvimento de um clima organizacional favorável a todos dentro das empresas”, afirma Leandro Bonetti.

Espaço físico cada vez mais digital

As inovações da tecnologia digital e virtual, juntamente com a ascensão do metaverso, estão transformando a noção convencional do local de trabalho como um espaço físico definido.

Agora, com uma maior conectividade e uma linha cada vez mais tênue entre o trabalho realizado em casa e no escritório. Nesse sentido, as organizações têm uma oportunidade única de repensar não apenas onde o trabalho é realizado, mas também como ele é executado.

A ênfase está sendo deslocada da localização e do formato para atender às necessidades do trabalho e dos colaboradores de forma mais eficiente. Por isso, é imprescindível, para Genesson, superar os desafios da comunicação no trabalho remoto e no híbrido.

“Para a realização de um trabalho bem-feito, independente dele ser realizado em casa ou no escritório, é fundamental a implementação de uma cultura sólida pautada na comunicação”, destaca o especialista em Inovação para RH.

Expandindo os horizontes: cocriação para fortalecer o relacionamento

Para alcançarem o sucesso, tanto as organizações quanto os colaboradores devem desenvolver habilidades de navegação conjunta nesse novo mundo, colaborando para criar diretrizes, desafiar limites e estabelecer um relacionamento renovado.

Sendo assim, é fundamental para as companhias abandonarem a crença em um controle absoluto e reconhecerem o seu papel nos ecossistemas em constante evolução. Isso é possível, segundo Patricia, através da amplificação e da escuta dos colaboradores.

“O grande desafio das organizações, atualmente, é amplificar tanto a voz quanto a escuta dos funcionários, principalmente a escuta. É preciso criar canais e desenvolver uma cultura para que as pessoas se sintam à vontade para serem ouvidas”, destaca.

Consequentemente, os colaboradores assumem uma influência e responsabilidade crescentes pelos resultados tanto da organização quanto da sociedade.

Na pesquisa Tendências Globais de Capital Humano 2023, da Deloitte, as empresas com maior envolvimento dos empregados no que diz respeito às mudanças organizacionais tinham mais chances de alcançarem resultados positivos.

Ou seja, aquelas que disseram que cocriam com seus empregados afirmaram que eram 1,8 vezes mais propensas a ter uma força de trabalho altamente engajada, 2 vezes mais propensas a serem inovadoras e 1,6 vezes mais propensas do que seus pares a antecipar e responder à mudança de forma eficaz.

Veja três maneiras com as quais as organizações podem cocriar seu relacionamento segundo o relatório:

A moeda dos dados

A distinção entre a organização e os direitos de propriedade do empregado, especialmente em relação aos dados, está se tornando cada vez menos relevante.

Afinal, as discussões sobre quais dados pertencem à força de trabalho, a transparência desses dados e os benefícios compartilhados dos insights baseados em dados estão ganhando destaque. Nesse sentido, os dados se tornam uma nova forma de “moeda“.

“Liderar sem as informações dos colaboradores é algo extremamente difícil e muito complexo, então, é preciso descentralizá-las. Além disso, mais do que dados, é necessário que elas sejam, de fato, necessárias, isso que permitirá alavancar o dia a dia das empresas”, destaca Leandro.

Poder aos colaboradores

O universo do trabalho baseado na autoridade exclusiva das organizações para tomar decisões está sendo substituído. O fato é que os empregados estão demandando um trabalho com propósito, modelos flexíveis de trabalho e planos de carreira personalizados.

Embora o poder crescente dos colaboradores possa ter sido considerado uma ameaça no passado, as empresas líderes estão descobrindo maneiras de aproveitar a motivação e a cocriação dos empregados para gerar benefícios mútuos.

Desbloqueando o ecossistema da força de trabalho

Há um imenso valor em fomentar ecossistemas diversos de força de trabalho. No entanto, muitas organizações ainda estão presas a antigas abordagens de acesso e gestão de talentos.

Nesse sentido, as empresas que ajustarem suas estratégias e práticas para se alinharem com a diversidade do mundo real de talentos, que inclui cada vez mais profissionais não tradicionais, irão se sobressair. Afinal, isso possibilitará uma ampla gama de habilidades e experiências que impulsionarão o crescimento, a inovação e a agilidade.

“É preciso ter a clareza que o talento pode estar em qualquer lugar e não somente nos usuais. Nesse sentido, combinar pessoas com skills diversas, sejam hards ou softs, permite superar os desafios de maneira mais diversa”, aponta Genesson.

Foco no impacto dos resultados humanos

A base essencial para um mundo sem fronteiras reside nas aspirações coletivas. As organizações devem buscar impacto não apenas em seus negócios, colaboradores ou acionistas, mas também na sociedade como um todo.

Já não basta construir programas isolados que abordem questões importantes como clima, igualdade ou risco humano de forma separada. Esses temas são fundamentais para que as organizações possam prosperar no novo mundo do trabalho.

De acordo com a pesquisa Tendências Globais de Capital Humano 2023 da Deloitte, mais de 80% das organizações identificaram propósito, diversidade, equidade e inclusão (DEI), sustentabilidade e confiança como suas principais áreas de foco.

Confira três formas que as empresas podem utilizar para priorizar resultados humanos:

Medidas ousadas para resultados equitativos

A abordagem da diversidade como uma simples métrica está se tornando obsoleta, e as organizações devem passar a enxergar a Equidade, Diversidade e Inclusão (DEI) como resultados concretos.

Esses resultados se concentrarão em garantir a igualdade no acesso e capacitação de talentos por meio de programas, métodos e ferramentas de desenvolvimento, além de promover o avanço e a promoção de talentos em todos os níveis da organização.

Dessa forma, as empresas serão cada vez mais avaliadas não apenas pelas atividades e esforços que realizam, mas sim pela sua capacidade de alcançar resultados equitativos em prol de objetivos sociais mais amplos.

Sustentabilidade no centro

A fronteira que separava as organizações como entidades autônomas, com interesses distintos dos da sociedade, está cada vez mais desaparecendo. Diante disso, as organizações estão sendo pressionadas a lidar com questões de sustentabilidade vindas de governos, coalizões globais, comunidades e, especialmente, de sua própria força de trabalho atual e futura.

Essa força de trabalho está exigindo que as empresas abandonem a retórica em torno da sustentabilidade e entreguem resultados tangíveis. Portanto, é preciso direcionar a atenção para os aspectos humanos, que, muitas vezes, são negligenciados em estratégias e ações.

Ascendendo o foco do risco humano

De forma tradicional, as organizações têm limitado sua visão dos riscos humanos, enxergando-os apenas como potenciais ameaças ao negócio. No entanto, no novo mundo do trabalho, as empresas precisam ampliar sua perspectiva e considerar um conjunto mais abrangente de riscos relacionados às pessoas, além de questões de conformidade e relatórios.

Esses riscos têm um impacto significativo e são afetados de forma significativa pelas pessoas. São riscos que podem ter consequências materiais para a sustentabilidade de longo prazo de uma empresa. Portanto, é crucial que todos os executivos compreendam plenamente esses riscos, sendo o conselho responsável por sua supervisão final.

Como liderar em um mundo sem fronteiras?

Uma abordagem de liderança transformadora é essencial para capacitar e motivar empregados e equipes a alcançar resultados inovadores. Em contrapartida, apenas 23% das organizações apontam, na pesquisa Tendências Globais de Capital Humano 2023 da Deloitte, que seus líderes são capazes de enfrentar as mudanças.

Além disso, há uma preocupação sobre a capacidade dos líderes de gerenciar essa força de trabalho em constante mudança, com menos de 15% das empresas dizendo que seus líderes estão preparados para liderar de forma inclusiva e combativa.

Outro ponto de aflição é com a definição e a execução do trabalho em si. O fato é que apenas 16% dizem que seus líderes estão prontos para usar a tecnologia para melhorar os resultados do trabalho e o desempenho da equipe.

Dessa forma, fica evidente que uma nova forma de liderar é necessária. “É papel da liderança ir além do papel técnico, mas também liderar uma visão de empresa”, reforça Genesson.

Para isso, o estudo oferece insights e recomendações para os líderes organizacionais sobre como abordar essas tendências e se preparar para o futuro do trabalho, veja:

  • Adotar a experimentação como uma abordagem para descobrir soluções mais eficazes, impulsionar o aprendizado e acelerar a geração de valor;
  • Fomentar relacionamentos sólidos e colaborativos com os empregados em todo o ecossistema, incentivando a cocriação e a participação ativa;
  • Ampliar a perspectiva na tomada de decisões, considerando o impacto global e mantendo a preocupação com o bem-estar humano como uma prioridade constante.

Ou seja, é preciso ter uma relação saudável com o trabalho e experimentar o que é possível para ser capaz de criar modelos sustentáveis de labor, a fim de torná-lo melhor para as pessoas e as pessoas melhores para ele.

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Priscila Cruz

Professora de Língua Portuguesa por formação, Analista de SEO por paixão. Atualmente, pós-graduada em Marketing e Growth para aprender a aliar criatividade com crescimento estratégico e acelerado. Acredito que a produção de conteúdo pela internet é o caminho para democratização do acesso ao conhecimento. Por isso, explore comigo as tendências de RH e todo o universo da gestão do capital humano!

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