Como tornar o ambiente de trabalho mais humano?

Rodrigo Vieira, fundador da Humanos de Negócios, aponta para o surgimento de um novo padrão ético dos consumidores e explica que isso exige mudança de postura das organizações

Pessoas que buscam no emprego algo que vá além da remuneração representam um novo desafio para quem quer contratar. Jovens profissionais têm priorizado lugares que possuam semelhança com seus valores e conexão com os seus propósitos: é isso que aponta a pesquisa sobre as Tendências Globais de Capital Humano 2019, da Deloitte. Adaptar-se às novidades e estabelecer um ambiente de trabalho mais humano tem criado uma vantagem competitiva na busca e retenção de novos talentos.

Para Rodrigo Cunha, fundador da Humanos de Negócios e CEO da ProfilePR, as organizações precisam rever seus objetivos se quiserem avançar. Mas como atender aos novos propósitos?

Rodrigo afirma que o processo de reavaliação não é simples. “As corporações entenderam que precisam se adaptar, mas os incentivos ainda estão totalmente conectados ao mercado de curto-prazo, com foco no trimestre”, pontua.

Por que adotar um trabalho mais humano?

A mudança no relacionamento entre empresas e clientes também interfere no modo que se conduz a relação com o público interno. “Existe um novo padrão ético dos consumidores. Eles que cobram uma postura mais coerente das empresas, tanto dentro quanto fora”, afirma Rodrigo

Dessa maneira, os efeitos da transformação em busca de um ambiente de trabalho mais humano interferem também na nova geração de colaboradores, que passam a ser mais críticos e conscientes quanto a postura das organizações.

“As pessoas estão percebendo que a vida não é feita apenas de trabalho. Mas ainda são estimuladas a consumir freneticamente, logo precisam de salários altos para sustentar um estilo de vida caro. Como se diz, ‘compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas das quais não gostamos’. Os novos profissionais não aceitam os modelos prontos e querem encontrar propósito e realização no que fazem”, completa Rodrigo.

Flexibilização e a atração de talentos

Se por um lado a distinção entre o que o mercado oferece e o que a geração atual deseja se apresenta como um desafio, o fundador da Humanos de Negócio avalia o cenário como uma oportunidade. Contudo, para tirar proveito dela, as empresas precisam questionar seus modelos vigentes. “É preciso entender a necessidade das pessoas e adequar as práticas de gestão de gente. Há muita referência e profissionais lidando com estes temas. As possibilidades são enormes, o modelo atual está no limite” pontua Rodrigo.

Como exemplo de observação das necessidades do colaborador, ele cita Yvon Chouinard, fundador da empresa de vestuário Patagonia. O autor do livro Let My People Go Surfing, Chouinard, conta que, em sua empresa, caso as condições de surfe e escalada estejam boas, para ele, é melhor que as pessoas pratiquem esporte agora e trabalhem mais tarde.

Rodrigo enxerga esse tipo de conduta flexível em organizações mais jovens e diz acreditar que isso possa atrair os novos profissionais, diferente de empresas que permanecem com uma postura mais rígida. “O ambiente de competição acirrada, onde é normal passar por cima dos outros e em que funcionários ‘eficientes’ são chamados de ‘tratores’, é um grande problema para a atração e retenção de talentos”, afirma.

RH e a criação de espaços

Abraçar a flexibilização e tornar o trabalho mais humano é um desafio global. Rodrigo explica que não faltam exemplos do que ele chama de “James Bonds” — lideranças que aparecem nas revistas de negócios fazendo de tudo para obter resultados financeiros. Para ele, esses executivos “têm licença para matar desde que entreguem resultados para os acionistas”.

Contudo, ele frisa que é possível ver que as organizações estão cada vez mais cientes sobre os riscos do modelo focado exclusivamente no lucro e começam a buscar por alternativas mais saudáveis. “No fundo são as pessoas que escolhem e elas estão dando sinais para as empresas, que precisam desesperadamente de novos talentos e já não os encontram facilmente”, esclarece.

Qual o papel da área de recursos humanos nesse cenário? Rodrigo acredita que cabe ao RH auxiliar a empresa a entender as necessidades dos indivíduos e adequar as práticas de gestão de pessoas a esse contexto. “Para a Humanos de Negócios, empresas que se vangloriam que os funcionários trabalham de 80 a 100 horas estão fazendo um grande mal para o ambiente de trabalho e para a sociedade”.

Rodrigo recomenda que as organizações acolham, ouçam e estimulem seus colaboradores, para, assim, provocar a mudança necessária. Para ele, a gestão de pessoas tem papel fundamental nesse processo: “O RH precisa puxar essa mudança e trazer novidades para o dia a dia. Muitas vezes criando o espaço para essa transformação ocorrer, por meio de workshops e trabalhos de desenvolvimento pessoal”, finaliza.

Entenda mais sobre a humanização do RH. Clique aqui para ler a 22º edição da Revista Huma e fique por dentro dos assuntos mais recentes da área de gestão de pessoas.

Rômulo Santos

Rômulo Santos

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