Segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), em 2017, foram registrados mais de 574 mil acidentes nas organizações. Em 2018, até o início de junho, as notificações já passaram de 247 mil. Apesar dos números serem altos, a estimativa do MPT é que a quantidade de acidentes de trabalho seja ainda maior, já que, segundo eles, há uma subnotificação por parte das companhias.
Em tempos de eSocial, essa realidade tende a mudar e as empresas precisam se adaptar. Isso porque o envio das rotinas de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), com obrigatoriedade prevista para janeiro de 2019, passará por alterações. O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) e a Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT), por exemplo, serão substituídos pelos eventos S-1060 (Tabela de Ambientes de Trabalho), S-2210 (Comunicação de Acidentes de Trabalho), S-2220 (Monitoramento da Saúde do Trabalhador), S-2240 (Condições Ambientais do Trabalho – Fatores de Risco) e S-2241 (Insalubridade, Periculosidade e Aposentadoria Especial). Em preparação para essa fase, muitas companhias estão revendo seus processos e implementando ações para reduzir os riscos de acidentes de trabalho, bem como melhorar o bem-estar de seus funcionários.
Na Usina Coruripe, empresa do setor sucroalcooleiro, esse cuidado vem muito antes do eSocial. Com mais de 90 anos de história e cerca de 9.400 colaboradores, a atenção com a segurança e saúde das pessoas faz parte dos valores da organização. De acordo com Nelson Pilla, Gerente de Segurança e Saúde do Trabalho da companhia, o segmento de açúcar e álcool vem de uma cultura com pouco investimento em segurança, mas a organização queria mudar esse cenário.
Por isso, em 2013, a empresa mobilizou equipes para mapear os desafios da área e foi constatada a necessidade de promover ações para reduzir o número de acidentes. “A partir disso, criamos o ‘Zero Acidente Sempre’, que está pautado em três blocos: liderança, conhecimento do processo e métodos de controle”, explica.
Preparando as lideranças
Nelson relata que a implantação do programa foi dividida em fases. A primeira, segundo ele, tinha o objetivo de modificar o comportamento dos líderes, desde o presidente até o fiscal de frente. “O engajamento da liderança é fundamental, pois ela é o elo entre a gestão e o que queremos atingir, que são as pessoas da ponta. Por isso, a capacitação foi o início do programa ‘Zero Acidente Sempre’. São os gestores que detêm a responsabilidade pelo local de trabalho, conhecem o ambiente e as tarefas dos nossos colaboradores, acompanhando diariamente”, afirma.
De acordo com Nelson, com o apoio das lideranças, a empresa expandiu o projeto para suas cinco unidades industriais – quatro em Minas Gerais e uma em Alagoas – e para o terminal rodoferroviário em São Paulo. “O controle do programa é feito por meio dos comitês de segurança realizados mensalmente em cada unidade. A partir disso, são gerados relatórios, que são analisados e monitorados pela alta liderança. Assim, os líderes conseguem coordenar e deliberar ações necessárias para melhorar os índices de redução de acidentes”, esclarece ele.
Envolvendo os colaboradores
Além dos comitês de segurança, Nelson explica que a companhia realiza ações internas para aumentar a adesão dos funcionários no combate aos acidentes de trabalho. “Também promovemos o conceito do programa em todos os nossos canais de comunicação, principalmente durante as ‘Reuniões 21 minutos’. Esse modelo é composto por sete slides, com três minutos para cada tema, no qual levamos informações sobre segurança que são essenciais para todas as áreas, de forma padronizada. Para o campo, a solução foram banners, que podem ser levados para onde o líder quiser”, detalha.
Para motivar os trabalhadores, a empresa promove o reconhecimento da unidade ou das áreas que atingem as metas de dias sem acidentes. “São ações que mobilizam e motivam os nossos colaboradores por meio da confraternização, o que aumenta o nível de engajamento com o programa”, afirma o Gerente de Segurança e Saúde do Trabalho.
E qual o papel do RH nesse cenário? Para Nelson, a área é extremamente importante porque é responsável por humanizar toda a indústria, tendo o conhecimento necessário para envolver as equipes e valorizar as habilidades das pessoas. “No programa ‘Zero Acidente Sempre’, a atuação da área de recursos humanos é muito ativa, auxiliando, principalmente, na capacitação dos colaboradores e no planejamento e desenvolvimento da matriz de qualificação”, destaca.
Resultados dos investimentos
Nelson conta que os colaboradores aderiram às práticas do programa, que vem apresentando bons resultados. “Conseguimos diminuir o número de acidentes com afastamento por ano de 450 para 20, o que representa uma redução de cerca de 95%. Com isso, consequentemente, aumentamos nossa produtividade. Também tivemos uma economia de aproximadamente R$ 20 milhões”, comemora.
Segundo o gerente, para verificar os benefícios do programa foi feita uma estimativa de quanto seria gasto com os acidentes de trabalho. “Projetamos que de 2013 a 2020, se não houvesse nenhuma ação de saúde e segurança no trabalho, nossa despesa chegaria a R$ 51 milhões. A economia que tivemos com o projeto já pagou o investimento que fizemos. Por isso, é tão importante investir em ações para a redução de acidentes”, ressalta Nelson.
Ainda tem dúvidas sobre como o eSocial vai modificar os processos de SST da sua empresa? Confira o webinar gravado “eSocial: entenda os impactos nas rotinas de Saúde e Segurança do Trabalho”, no qual Luiz Antônio Medeiros, Auditor-Fiscal do Trabalho, fala sobre o tema. Clique aqui para assistir.