A transformação do mundo do trabalho através do desenvolvimento tecnológico é uma realidade cada vez mais presente e inevitável. Se por um lado há uma nova dinâmica que traz uma série de benefícios, por outro, é inevitável o questionamento acerca de quão equilibrada está a relação entre digitalização e humanização.
Segundo afirma Dante Gallian, Professor e Fundador da Responsabilidade Humanística, esse é um dos principais pontos de atenção da atualidade, em especial para o RH. “As empresas poderão contar cada vez mais com a Inteligência Artificial, mas sem humanos elas perdem suas funções, seu sentido: se tornam empresas desumanas. Isso não é bom para ninguém, nem para gestores, colaboradores ou para a sociedade de maneira geral. Acho que o grande desafio hoje é saber encontrar esse equilíbrio”, explica.
No mesmo sentido, Ana Cardoso, Gestora na Back to Humans, reforça que a área de gestão de pessoas ocupa uma posição chave nesse processo. “Se levarmos em conta que os cargos e as relações estão em transformação, o RH é o departamento das empresas que precisa estar mais atento, principalmente na hora das contratações”, ressalta.
De acordo com um artigo recente do Analista e Fundador da Bersin, Josh Bersin, não é mais possível manter um RH sem um foco sério em tecnologia e, por isso, os gestores estão em busca de novas soluções cada vez mais disruptivas.
Nesse cenário, os especialistas frisam que ignorar a necessidade de manter um equilíbrio entre digitalização e humanização na cultura organizacional pode não só fazer com que o investimento em tecnologia seja sem efeito, mas também trazer prejuízos graves. Por isso, confira abaixo 5 dicas para trazer a inovação para sua empresa de forma harmônica:
1 – Tecnologia como reforço; não substituto
Para Dante, um dos pontos principais para tirar o melhor proveito do binômio digitalização e humanização é entender os limites do uso da tecnologia no ambiente profissional.
Como ele explica, há uma sensação de que esses avanços tecnológicos estariam “atropelando” a vida das pessoas. Sendo assim, o especialista reforça a importância do cuidado da gestão de pessoas diante dessas transformações justamente para saber desfazer o medo que profissionais têm de se tornarem obsoletos.
“O que está acontecendo com essas pessoas que se formaram, investiram em sua educação para desempenhar determinados cargos, tarefas e funções e que, ao chegarem no mercado de trabalho, percebem que são absolutamente descartáveis?”, questiona.
Já Ana Cardoso reforça como é essencial ser capaz de separar o homem da máquina. Ela explica que é comum que profissionais que interagem com robôs se cobrem mais, contudo, essa pode ser uma prática desastrosa, já que as limitações de homem e máquina são diferentes. “É importante nunca esquecer disso: os robôs devem trabalhar para melhorar a vida dos humanos e não para torná-la insalubre e extenuante”.
2 – Respeite os limites
Dar à tecnologia o peso adequado na relação com os colaboradores que interagem com essas ferramentas é também essencial para garantir que o processo de transformação não seja um propagador de doenças.
Como Dante explica, as barreiras entre vida profissional e pessoal estão cada vez mais tênues diante da interação constante, fruto da era digital. Nesse sentido, é fundamental que os limites do ser humano sejam respeitados para que haja harmonia entre digitalização e humanização.
“Tenho falado muito nas entrevistas, no que venho escrevendo e palestras que dou a respeito dessa dinâmica desumanizadora e patologizadora do mundo corporativo de maneira geral, hoje em dia. As pessoas estão adoecendo porque esse equilíbrio está sendo rompido”, alerta.
3 – Trate o humano como essencial
Para garantir que o ambiente corporativo seja humanizado mesmo diante da inserção massiva de novas tecnologias, Ana Cardoso avalia a importância de ter uma equipe diversa, com profissionais oriundos de contextos distintos.
Ainda assim, ela explica que esses colaboradores precisam se sentir acolhidos e isso demanda que eles tenham seus valores reconhecidos. “Humanizar uma corporação passa por incentivar e dar espaço para relações empáticas entre as pessoas. Cada funcionário precisa entender a importância de seu trabalho para a empresa, para o trabalho dos outros colegas e para o mundo. Dessa forma, pode-se reduzir absenteísmo e falta de cooperação com outros setores”, pontua.
4 – Faça uma revolução humanística
Enquanto operações técnicas que antes demandavam um processo de formação e desenvolvimento, tanto da área de RH como de outras do mundo corporativo, passam a ser desenvolvidas e desempenhadas por sistemas automáticos, digitais e de IA, Dante Gallian acredita que seja necessário um processo de transformação a parte.
Como ele explica, a gestão de pessoas tem papel fundamental na liderança desse movimento. Desencadeando uma mudança de mindset voltada para a nova postura necessária ao desenvolvimento do profissional de RH.
“A grande revolução tecnológica demanda uma nova, que eu chamo de humanística. A postura do RH tem que ser cada vez menos tecnicista e se voltar cada vez mais para uma perspectiva humanística. Esse profissional tem que estar preparado para dar respostas e encontrar soluções no desafio, em busca do equilíbrio entre o processo de transformação digital e tecnológico e a preservação da humanização e da saúde das organizações”, aconselha.
5 – Promova a cultura certa
Por fim, Ana Cardoso frisa que mesmo sendo crucial para uma realidade de trabalho mais humano, o RH está longe de ser o único responsável pelo sucesso desses esforços.
Para ela, a forma como a organização lida com o desempenho de seus colaboradores também é de extrema importância em um cenário onde o desequilíbrio entre digitalização e humanização pode gerar um ambiente de tensão. “Existem muitas outras questões em jogo, no entanto, ‘mais conversa e menos pressão’ resume uma série delas. O RH tem um papel essencial como fomentador disso tudo. Entendemos que a cultura da empresa é um fator que geralmente está muito ligado a práticas dos próprios gestores/diretores/CEOs. Não é justo colocar toda a carga em cima do RH, sendo que em algumas situações os próprios donos do negócio ou VPs não têm práticas humanas”, finaliza.
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