Nos últimos anos, a saúde mental dos colaboradores tem ganhado cada vez mais destaque no ambiente corporativo. As demandas de trabalho, combinadas com a crescente pressão por resultados, e o impacto da pandemia, resultaram em um aumento significativo de casos de estresse, burnout e outras condições relacionadas ao bem-estar emocional.
Este artigo explora como o RH pode impactar no cuidado da saúde dos colaboradores, e traz dicas de como cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho.
O desafio do home office e os impactos na saúde mental
Um dos temas centrais discutidos no painel foi o impacto do home office na saúde mental dos colaboradores. Ivone, Gerente de Saúde Ocupacional do Itaú, destacou que o modelo de trabalho remoto trouxe desafios únicos, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“Após a pandemia, muitos colaboradores passaram a trabalhar 100% em home office, o que trouxe uma série de desafios relacionados ao bem-estar mental”, disse Ivone.
Segundo ela, dados internos do banco indicam que o absenteísmo por motivos de saúde mental prevalece entre colaboradores que trabalham exclusivamente de forma remota.
Essa afirmação está alinhada com pesquisas recentes. Um estudo publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, revelou que trabalhadores remotos têm 24% mais chances de desenvolver condições de ansiedade em comparação aos trabalhadores presenciais.
Esse aumento está diretamente relacionado à falta de separação entre os ambientes de trabalho e descanso, à sobrecarga mental e às dificuldades de adaptação às novas rotinas.
Implementação de ferramentas de avaliação e suporte emocional
Para enfrentar esses desafios, o Itaú implementou uma série de ferramentas voltadas ao monitoramento e suporte à saúde mental dos seus colaboradores.
Entre as iniciativas, destaca-se a utilização do SRQ-20, um questionário com 20 perguntas que rastreia o risco de adoecimento mental.
Ivone explicou que o questionário é uma ferramenta poderosa para avaliar o estado emocional dos colaboradores de maneira contínua.
“O SRQ-20 é utilizado em nossos exames periódicos, e as respostas dos colaboradores nos ajudam a identificar os níveis de risco — seja baixo, moderado ou crítico. A partir daí, podemos agir com mais precisão para oferecer o suporte necessário”, detalhou a gerente.
Além do uso do SRQ-20, o banco também adotou o autopreenchimento da ferramenta, permitindo que os colaboradores façam a avaliação de maneira anônima e confortável, sem a pressão de uma interação presencial imediata.
Isso é importante porque, como destacou Ivone, algumas perguntas podem ser sensíveis, como aquelas que abordam pensamentos suicidas.
“Trazer o autopreenchimento foi um avanço, pois permitiu que as pessoas se sentissem mais à vontade para responder questões delicadas, o que, por sua vez, melhora a precisão dos dados”, afirmou.
A importância de dados de qualidade no monitoramento da saúde mental
Outro ponto enfatizado no painel foi a importância da qualidade dos dados. Segundo Eduardo Milaneli, mediador do evento e CEO da FAP Online, uma empresa LG lugar de gente, a forma como as empresas lidam com os dados de saúde mental é crucial para o sucesso das iniciativas.
“Hoje vivemos um desafio em que queremos rapidez, mas também precisamos de qualidade. E o Itaú é um exemplo de como esses dois fatores podem caminhar juntos”, destacou.
Essa afirmação está em consonância com estudos recentes sobre o impacto de dados de qualidade no gerenciamento da saúde mental corporativa.
Pesquisas da Harvard Business Review, em 2023, mostraram que empresas que utilizam dados detalhados e precisos sobre o bem-estar de seus colaboradores conseguem reduzir o absenteísmo em até 20% e melhorar a produtividade em 15%.
No Itaú, a coleta de dados vai além das respostas dos colaboradores no SRQ-20. Ivone mencionou que as respostas são cruzadas com outros indicadores de saúde do banco para criar um panorama completo do bem-estar emocional dos colaboradores.
“Temos parcerias com plataformas de saúde que oferecem conteúdos e atividades de autocuidado para os colaboradores. Isso, combinado com a qualidade dos dados que coletamos, nos permite oferecer um suporte mais personalizado e eficaz”, explicou Ivone.
A nova regulamentação e a gestão dos riscos psicossociais
A gestão dos riscos psicossociais também foi amplamente discutida. Rosângela, Gerente da área de Saúde e Segurança do Trabalho do Itaú, falou sobre os desafios que as empresas enfrentam com a nova regulamentação que exige o mapeamento e gerenciamento desses riscos.
“O maior desafio é saber o que é resultado do trabalho e o que não é”, comentou Rosângela, referindo-se à dificuldade de classificar as causas do adoecimento mental. Para isso, o Itaú utiliza a metodologia HSE, que avalia sete dimensões de risco psíquico por meio de um questionário de 35 perguntas.
“Rodamos esse questionário para 100% dos colaboradores em fevereiro e, a partir dos resultados, estamos desenvolvendo uma matriz de risco para classificar os riscos como altos, médios ou baixos”, explicou.
Essa abordagem é essencial em um cenário em que as empresas precisam lidar com regulamentações cada vez mais rigorosas.
Segundo a NR-1 (Norma Regulamentadora 1), as empresas são obrigadas a identificar e gerenciar riscos psicossociais, e não fazê-lo pode resultar em sanções legais e aumento dos custos relacionados ao absenteísmo.
A implementação de metodologias como a HSE ajuda as empresas a cumprirem essas obrigações de forma mais eficiente, garantindo um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.
Flexibilidade e inclusão: os desafios para as mães no ambiente corporativo
Outro tema de grande relevância abordado no painel foi o impacto da maternidade na carreira das mulheres. Ivone compartilhou que muitas colaboradoras relatam se sentir sobrecarregadas ao tentar equilibrar as responsabilidades profissionais e pessoais.
“Uma questão que ouvimos frequentemente é que as mães, especialmente as que trabalham em home office, sentem-se pressionadas a dar conta de tudo. Por isso, criamos iniciativas para oferecer mais flexibilidade e apoio”, explicou Ivone.
Uma das iniciativas mencionadas foi o programa de retorno gradual ao trabalho após a licença maternidade, que inclui a redução de metas e carga horária nas primeiras semanas após o retorno.
Além disso, o banco também oferece suporte psicológico e promove grupos de afinidade voltados para o empoderamento feminino.
“Temos o grupo ‘É por todas e com todas’, que promove ações de conscientização e apoio às mulheres no banco. Assumimos o compromisso de que 40% das nossas lideranças serão ocupadas por mulheres até 2025, o que reflete nosso compromisso com a igualdade de gênero”, acrescentou Ivone.
Governança: o pilar essencial na gestão da saúde e segurança no trabalho
Rosângela também destacou a importância da governança na gestão de saúde e segurança no trabalho. “A governança é o que garante que as nossas iniciativas sejam eficazes. Monitoramos constantemente os riscos e implementamos planos de ação quando necessário”, explicou.
Segundo Rosângela, a equipe de governança do banco está focada em assegurar que as normativas sejam seguidas e que os riscos sejam minimizados. Isso inclui o gerenciamento de riscos psicossociais e a fiscalização do eSocial, que exige que os dados sobre riscos ocupacionais sejam enviados ao governo.
A preocupação com a governança também reflete uma tendência global. Um relatório da McKinsey & Company, publicado em 2023, revelou que empresas com fortes políticas de governança em saúde e segurança no trabalho têm 30% menos incidentes de saúde ocupacional e 25% mais satisfação entre seus colaboradores.
Saiba mais:
- 9 multas no eSocial para as empresas estarem atentas (lg.com.br)
- FAP 2023: como reduzir tributos na folha de pagamentos (lg.com.br)
- People Analytics e saúde do colaborador: prevenção em foco (lg.com.br)
Saúde mental como prioridade estratégica
O painel “O RH no cuidado da saúde dos colaboradores e dos negócios” deixou claro que cuidar da saúde mental dos colaboradores não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia de negócios essencial.
Empresas como o Itaú estão na vanguarda ao integrar dados, tecnologia e sensibilidade humana para promover o bem-estar dos colaboradores. Como afirmou Ivone, “o cuidado com a saúde mental deve ser uma responsabilidade de todos dentro da empresa”.
E isso reflete uma mudança significativa na forma como as organizações estão começando a abordar esse tema.
O futuro do trabalho está intrinsecamente ligado ao bem-estar emocional dos colaboradores, e empresas que investem em programas robustos de saúde mental não apenas reduzem o absenteísmo, mas também aumentam a produtividade e a retenção de talentos.
Com as novas regulamentações e a crescente conscientização sobre a importância do bem-estar, a saúde mental continuará a ser um dos principais pilares para o sucesso organizacional nos próximos anos.
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