Recrutar e preparar os melhores profissionais está na base do trabalho de qualquer organização que busca sucesso. Contudo, a fuga de talentos massiva que tem atingido o Brasil mostra que as empresas nacionais têm nesse esforço um desafio que tende a ficar cada vez maior com os efeitos da transformação digital.
Conforme aponta o relatório Global Talent Competitiveness Index 2020, feito pela Insead, com a avaliação das economias de 132 países, o número de profissionais brasileiros buscando oportunidades estrangeiras cresceu.
Em comparação com 2019, o Brasil saiu da 45ª posição para a 70ª no item “fuga de cérebros”, se tornando o pior país do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em termos de competitividade global.
A tecnologia e a fuga de talentos
Segundo os dados levantados pela Insead, muito disso está relacionado à incapacidade do Brasil em atrair talentos, quesito em que ocupa a 96ª posição do levantamento. Ainda pior é o baixo índice de habilidades vocacionais e técnicas percebidas na economia brasileira.
Para Luciano Meira, Professor e Sócio-Fundador da Caminhos Vida Integral, ainda que o quadro no Brasil seja precário, não se trata de um problema local e a presença do debate no Fórum Econômico Mundial em Davos reforça isso. Ele explica que, além das relações trabalhistas, os avanços tecnológicos deixaram os profissionais mais livres para escolher seus caminhos.
“O ser humano está começando a ficar menos refém, por assim dizer, dos sistemas de produção que já existem a tanto tempo. Isso graças às novas tecnologias, à educação que, mesmo com pouca qualidade na maioria dos países, se espalhou e se democratizou. Ela alcançou pessoas em todos os níveis sociais e empoderou as pessoas para que elas busquem opções fora daquilo que poderíamos chamar de convencional”, afirma.
Se por um lado a tecnologia ofereceu as ferramentas para que os indivíduos buscassem novas oportunidades, a falta de investimento em inovação a altura de outros países tem feito com que os destaques da força de trabalho brasileira abandonem o mercado local.
Uma das provas disso está no item que avalia a “relevância do sistema educacional para a economia” do país. Com nota 15,86, o Brasil ficou com a 126ª posição do ranking, sua pior colocação.
Inovação para reverter o quadro
De acordo com Luciano, boa parte do problema com a fuga de talentos está na cultura nacional em relação ao trabalho. Para ele, ainda é muito comum nas organizações um modelo rígido de hierarquização que não dialoga bem com a realidade atual.
“Estamos ainda no meio do caminho, com certas visões muito tradicionalistas por um lado. Por outro, eu diria que ainda falta uma visão que entenda os movimentos que estão acontecendo nesse momento no mercado de trabalho”, avalia.
Ele explica que essa estrutura vertical não está adequada aos pontos capazes de reter talentos no longo prazo. “Eu acredito que muita gente ainda consiga ficar vários anos em uma empresa quando essa companhia sabe criar oportunidades de crescimento e dar autonomia para o indivíduo, oferece uma cultura de valores claros, tem líderes que dão bons exemplos na vivência desses princípios e oferece um bom nível de organização para atingir resultados equilibrando com um ambiente de trabalho humanizado. No entanto, isso ainda é muito raro”, completa.
Nesse contexto, reverter esse quadro extremamente negativo passa pela adequação das habilidades profissionais necessárias à força de trabalho brasileira para atender às demandas da economia. Um dos modos de fazer isso estaria na atração de profissionais estrangeiros, mas Luciano questiona a capacidade do país para isso.
Segundo o professor, se o Brasil está ameaçado pela fuga de talentos, seria necessário buscar os melhores colaboradores de economias em situações ainda menos favoráveis. “Não acho que nossa área de Recursos Humanos esteja realmente preparada para isso, porque também é preciso ter sistemas bem desenvolvidos para apoiar a vinda do capital humano estrangeiro. Será que o Brasil sabe como acolher esses estrangeiros de uma forma bem estruturada e com apoio psicológico, emocional e cultural para que eles se adaptem bem? Não é um trabalho fácil criar esse sistema. Acredito que podemos sim tentar atrair, mas precisamos montar estruturas muito boas para poder fazer essa retenção”, ressalta.
Inteligência Artificial e tecnologia são fundamentais
Se é necessário elevar o nível da educação brasileira para que ela seja relevante para a economia interna e capaz de estimular os talentos a permanecerem no país em busca de crescimento, Luciano Meira salienta que esse esforço deve começar do básico e ser universal.
“Em primeiro lugar, todos os colaboradores devem ter mais informação sobre tecnologia. Todos precisamos de conhecimento e habilidade para viver em um mundo que vai ser tocado pela inovação. Ainda existem muitos analfabetos digitais, muitas pessoas, inclusive de gerações anteriores, que sequer se adaptaram às ferramentas mais básicas e, no entanto, estamos caminhando para um mundo que possui um alto grau de habilidades tecnológicas requeridas”, pontua.
Nesse cenário, o especialista acredita que a Inteligência Artificial (IA) se coloca tanto como um desafio quanto como uma solução. Embora ela esteja sempre cercada do medo da extinção de ocupações, Luciano entende que a aplicação da solução em funções básicas tende a libertar o indivíduo para dedicar mais tempo em seu desenvolvimento.
Além disso, o professor afirma que vários pontos da cultura organizacional que têm impacto relevante na retenção de talentos não são abordados da forma ideal na maioria das empresas. Para muitos deles, o uso de soluções baseadas em IA pode mudar o resultado.
“Existem também sistemas de contratação, retenção, remuneração, bonificação e de avaliação de desempenho, que eu diria ainda que é um dos mais cruéis nesse caso, que tem contribuído para as pessoas não conseguirem ficar por muito tempo dentro de uma organização”, reforça.
Embora sejam pensados dentro de um contexto de evolução, Luciano esclarece que esses processos podem criar uma sensação ameaçadora de que nada abaixo da perfeição será aceito dentro da companhia. “Esse tipo de ambiente acaba desestimulando e desengajando as pessoas”, alerta.
Para Luciano Meira, é fundamental que as organizações abandonem práticas tradicionais e se abram à inovação para conter a fuga de talentos. Nesse cenário, ele acredita que a gestão de pessoas também tem função de destaque e que ela mesma está fadada a se transformar. “Acredito que o RH sempre tem um papel em todos os momentos de mudança, de forma que até o nome dessa área talvez passe por mudanças. Gosto muito do nome LG lugar de gente porque ele já aponta para um futuro em que nós não vamos mais falar de Recursos Humanos, mas sim do desenvolvimento pleno das pessoas e de seus potenciais”, completa.
Colaboradores capacitados são mais produtivos e engajados, o que auxilia na retenção de talentos e nos resultados financeiros das empresas. Veja como a Claro Brasil conquistou um programa de capacitação moderno, tecnológico e rentável em parceria com a LG lugar de gente.