A crescente adoção de Inteligência Artificial, robôs e chatbots nas empresas levantam o questionamento: as novas tecnologias irão tomar o lugar das pessoas nas companhias? O estudo “Futuro do Trabalho”, realizado pelo LinkedIn e pela WGSN, empresa de análises e previsão de tendências, aponta que não. Segundo o levantamento, apesar do crescente desenvolvimento tecnológico e da transformação digital, a inteligência emocional e as habilidades consideradas “humanas” são competências cada vez mais desejadas e essenciais para os profissionais. Então, afinal, como garantir o protagonismo humano na era digital?
Para falar sobre o tema, conversamos com Rodrigo Giaffredo, Co-fundador da Super-Humanos Consultoria, palestrante e treinador de líderes na IBM América Latina, que revela que quando patenteou a marca “Protagonismo Humano na Era Digital ®”, em 2018, refletiu bastante sobre a relação “velocidade dos avanços tecnológicos versus a capacidade de adaptação da sociedade às mudanças inerentes a eles”. “É fato que grandes mudanças sociais não são um fenômeno recente, assim como o impacto causado pela introdução de novas tecnologias aos processos produtivos também não é — as ditas revoluções industriais. Mas não podemos negar que entre a Primeira e a Quarta Revolução Industrial (que vivemos atualmente), a rapidez e a complexidade resultante das mudanças afetaram a força de trabalho de forma exponencialmente maior e mais sofisticada”.
Nova era, novas tecnologias
Rodrigo ressalta que a Quarta Revolução Industrial introduziu tecnologias extremamente sofisticadas nos processos produtivos, como a robótica, a Inteligência Artificial, a nano e a biotecnologia, e que precisamos nos adaptar a elas. Entretanto, ele pondera que isso pode levar algum tempo. “É até ingênuo de nossa parte achar que conseguiremos, rapidamente, preparar uma nova força de trabalho que lide tranquilamente com essas introduções, apenas focando em capacitá-las em áreas de conhecimento tão complexas quanto essas, no curto espaço de tempo disponível para que a transição não gere impactos catastróficos”.
Segundo ele, os impactos causados pelas novas tecnologias serão mais fortes sobre as pessoas que desenvolveram sua carreira e construíram suas habilidades seguindo o paradigma de especialização proposto pelo Taylorismo. “Um exemplo disso é o ritmo acelerado do uso de robôs, tanto em linhas de produção fabril quanto em processos operacionais associados à burocracia (RPA – Robot Process Automation), ou ainda no uso de Inteligência Artificial para atendimento ao consumidor através de chatbots”, destaca.
Humanos em destaque
No entanto, Rodrigo afirma que quando nos distanciamos dessas previsões e buscamos o espectro mais amplo da mudança, é possível identificar o principal fator de ligação de todos esses componentes: o ser humano. “Sinceramente, não consigo imaginar um futuro onde o mundo será habitado apenas por robôs. Logo, me preocupa muito mais prepararmos as pessoas para lidar não apenas com essas transformações, mas também com quaisquer outras que se apresentarem em um futuro próximo ou distante”, reflete.
Ele ressalta que muitos estudos já mostram as competências humanas que se destacarão diante desse cenário. “Acho sensacional quando leio os relatórios do Fórum Econômico Mundial a respeito do futuro do trabalho e os vejo incentivando o desenvolvimento de 10 habilidades que até pouco tempo eram consideradas apenas soft e que agora são chave em um mundo VUCA (do inglês, volatility, uncertainty, complexity and ambiguity). Flexibilidade cognitiva, inteligência emocional, gestão de pessoas, capacidade de negociar, tomar decisões e resolver problemas complexos são muito mais do que apenas uma lista emitida por uma entidade confiável. São, na verdade, as qualidades que nos tornam únicos e imbatíveis diante de qualquer cenário de transformação social, econômica ou política”.
Rodrigo finaliza destacando que acredita que a construção do futuro do trabalho está na união entre pessoas e tecnologia. “Quanto mais humanos nos tornarmos, mais saberemos o que fazer com as inovações com as quais teremos que interagir e seremos mais aptos a nos adaptarmos a elas. Obviamente que, em seguida, é importante sim nos dedicarmos ao aprendizado de novas habilidades técnicas. Mas são as soft que vão nos libertar, finalmente, da forma mecanicista de pensamento herdada pelas gerações pós Taylor. Isso é o que chamo de Protagonismo Humano na Era Digital ®: menos ‘humanos versus máquinas’ e mais ‘humanos com máquinas’ na construção de um novo mundo em que todos possamos realizar nosso máximo potencial”, finaliza.
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