O mundo vive um momento único com a chegada das tecnologias exponenciais. Se antes as soluções tradicionais evoluíam de forma linear ao longo dos anos, novidades, como a inteligência artificial, se desenvolvem de forma muito mais ágil e prometem afetar todas as empresas. De acordo com Tonia Casarin, especialista em desenvolvimento de competências socioemocionais, a interconectividade, a crescente complexidade das transformações sociais e tecnológicas e a interação entre raças, gênero e religião, por exemplo, têm ampliado a relevância das habilidades socioemocionais para a realização no âmbito pessoal, social e no trabalho.
Mas, afinal, quais são as competências que as empresas estão buscando? De acordo com um estudo sobre “Digital Transformation” da consultoria Capgemini, feito em 2017, foco no cliente, computação em nuvem, paixão por aprender, colaboração, tomar decisões com base em dados, cibersegurança, gestão de mudança, design de interface para o usuário e desenvolvimento web são algumas das habilidades que estão sendo mais demandadas pelas organizações.
Tanto soft quanto hard skills aparecem no estudo, porém a maioria das empresas entrevistadas respondeu que a principal dificuldade está em encontrar e desenvolver as habilidades comportamentais. O que já era previsto, afinal muitas das aptidões técnicas parecem estar com os dias contatos e serão substituídas por alguma tecnologia. O Fórum Econômico Mundial prevê que a Inteligência Artificial provocará o fim de 5 milhões de empregos até 2020.
Nesse cenário, ter empatia, saber se comunicar, possuir pensamento crítico, adaptar-se às mudanças, se autodesenvolver, estar motivado e engajado com o ambiente de trabalho são algumas soft skills que se destacam. Para Tonia, essas competências compõem o que ela considera “Tecnologia Humana”. A especialista explica: “Essas habilidades incluem a capacidade de cada um de lidar com suas próprias emoções, desenvolver autoconhecimento, se relacionar com o outro, ser capaz de colaborar, mediar conflitos e solucionar problemas. Elas são utilizadas no nosso dia a dia de forma sistemática e integram todo o processo de formação de uma pessoa como um ser integral: indivíduo, profissional e cidadão”, destaca.
Por que desenvolver essas competências?
Tonia reforça que a importância do desenvolvimento das habilidades socioemocionais não é algo recente. “Em 2015, a Harvard Business Review publicou um artigo com uma premissa que parece contraditória. No mundo cada vez mais tecnológico, as competências sociais e emocionais tornam-se mais importantes e fundamentais para as pessoas. Mais do que a capacidade de fazer cálculos de cabeça, por exemplo, saber se relacionar, comunicar, trabalhar em conjunto e se adaptar às circunstâncias diversas pode ser o diferencial para um candidato a uma vaga de trabalho. O artigo aponta que bons robôs são excelentes em tarefas específicas, as quais foram programados para fazer. No entanto, por esse mesmo motivo, não são flexíveis e essa é a vantagem dos seres humanos no mercado de trabalho”, lembra ela.
Para corroborar esses dados, Tonia cita que resultados de estudos acadêmicos mostram que o coeficiente de inteligência (QI) é responsável por uma pequena parcela do desempenho dos profissionais, variando entre 4% e 25%. Isso significa que o restante vem das competências não técnicas. “Além disso, provou-se que os executivos que se tornaram presidentes de uma empresa, comparados com aqueles que foram preteridos, tinham 7 vezes mais chances de ter uma pontuação alta em autocontrole; 3 vezes mais chances de ter uma pontuação alta em empatia; e 2,5 vezes mais chances de ter uma pontuação alta em trabalho em equipe. Habilidades que são correlacionadas com a inteligência emocional e social, ou seja, competências ligadas à performance”, destaca a especialista.
Diante desse cenário, como sobreviver em um mundo VUCA? Cada vez mais incerto, imprevisível e mutante? É possível potencializar as competências comportamentais? Tonia aconselha: “Antes de tudo, precisamos ter um mindset de aprender a aprender. Afinal, o desenvolvimento da inteligência emocional e social é o caminho para estar preparado para um futuro que não sabemos como será. Essas habilidades darão suporte para nos adaptarmos e tomarmos decisões melhores para nós mesmos, para o outro e para o mundo”, finaliza a especialista.
Tonia Casarin é mestre em Educação pela Universidade de Columbia em Nova York. Empreendedora na área de educação, trabalha com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. É educadora, palestrante e professora de Pós-Graduação no Instituto Singularidades em São Paulo e do curso de Empreendedorismo no Google Campus. Foi vencedora do Global Impact Challenge no Brasil, prêmio da Singularity University em 2017. Mais detalhes em: perfil.toniacasarin.com.br
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