O retorno ao trabalho presencial está começando com a flexibilização do distanciamento social. É o que mostra os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) covid-19, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o número de brasileiros afastados do trabalho temporariamente pela pandemia segue caindo. Mas será que isso significa uma retomada dos mesmos modelos e rotinas de antes?
De fato, o cenário apresentado pelo levantamento é expressivo. Em maio, quando o IBGE começou a reunir os dados, a quantidade de trabalhadores em home office passava de 16 milhões. Na terceira semana de julho, o estudo apontou que 6 milhões de profissionais continuam em regime de trabalho remoto.
Contudo, no artigo “Responding To COVID-19. Ten Lessons From The World’s HR Leaders”, Josh Bersin, referência internacional no segmento de RH, faz um alerta que não há retorno. Reunindo a opinião de gestores de grandes empresas, Bersin ressalta como a disrupção causada pela crise vai além das organizações para criar mudanças com impactos que vão durar por anos.
Confira 7 ações que são fundamentais para lidar com essa transformação:
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1 – Aliar retorno ao trabalho presencial e home office
Ainda que o retorno ao trabalho presencial esteja aumentando, isso não deve sinalizar o fim do home office. Conforme ilustra o artigo, a IBM tem atualmente 95% de sua força de trabalho atuando remotamente e o exemplo é seguido por praticamente todas as grandes organizações do mercado global.
Diante disso, esse processo de retomada precisa contemplar a avaliação de quais funções podem seguir sendo executadas em um modelo de home office, seja ele integral ou parcialmente. Isso pode ajudar as companhias a otimizar gastos com espaços físicos e deslocamento de profissionais, por exemplo.
Além disso, Bersin destaca o impacto dessa experiência sobre a relação entre organização e colaborador. “Nossa pesquisa mostra que o trabalho remoto tem sido um esforço enorme e um grande sucesso para a maioria das empresas, além de levar os tópicos confiança, transparência e apoio à liderança a impressionantes novos níveis”, afirma.
2 – Cuide da saúde e da segurança do seu pessoal
Outro motivo que impede o retorno ao trabalho presencial imediata está no fato de que os colaboradores têm que lidar com o medo da contaminação e toda a incerteza que ainda cerca a covid-19.
Sendo assim, cuidar da saúde e da segurança de seus profissionais é imprescindível. Para Bersin, Isso deve ir desde o cotidiano desses trabalhadores no ambiente da empresa até a definição acerca do pagamento de adicionais de periculosidade e políticas de viagem.
Mais do que isso, em alguns casos, o especialista reforça que o comportamento da empresa nesse sentido serve de modelo para os públicos com quem ela dialoga, o que torna essa atenção no retorno ao trabalho presencial ainda mais importante.
3 – Invista em novas tecnologias
A partir da ameaça da covid-19, muitas organizações se viram forçada a acelerar planos de longo prazo para aderir a novas tecnologias digitais para que eles estivessem funcionando por completo em poucas semanas.
E isso não vai mudar. Reunindo a opinião de diferentes líderes do mercado global, Bersin destaca que fazer a transformação digital, mesmo com o retorno ao trabalho presencial, é urgente.
Na verdade, o teste inesperado serviu para provar que as tecnologias funcionam e que são fundamentais para lidar com crises de grandes proporções. Sendo assim, Bersin reforça que não há mais tempo ou justificativa para adiar essa adoção.
4 – Ouça, aprenda e compartilhe com suas pessoas
Pode soar contraditório, mas o distanciamento social aproximou as pessoas. Josh Bersin evoca experiências de diversos executivos que viram as pessoas em seus bairros se organizarem para ajudar umas às outras com rotas de compras de mantimentos ou mesmo para reconhecer a importância do trabalho dos profissionais de saúde.
Se essa é a nova realidade no ambiente social, o retorno ao trabalho presencial também precisa ser acompanhado por essa capacidade de ouvir cada uma das pessoas envolvidas nos processos da organização.
E isso está diretamente relacionado com a distribuição da autoridade entre os colaboradores, que é a chave para lidar com os diferentes obstáculos que podem surgir de forma inesperada durante momentos como o atual.
“Cada função do RH precisa ter uma estratégia para a coordenação central com controle local, com base em plataformas, estratégias e valores compartilhados”, argumenta.
Como exemplo, Bersin menciona organizações com operações em vários países ou cidades que foram impactadas em cada local por uma definição diferentes das autoridades governamentais. “Essas importantes medidas de ‘resiliência’ precisam ser endereçadas rápida e localmente e isso requer um modelo operacional ‘distribuído, porém coordenado’”, argumenta.
5 – Use dados para continuar projetos
Embora a crise seja real, ela não precisa ser a única realidade vivida pela empresa. De acordo com o especialista, é importante que a organização seja capaz de seguir com seus projetos ao mesmo tempo em que lida com os impactos da pandemia.
Nesse sentido, o movimento para o retorno ao trabalho presencial mostra que as empresas estão caminhando nessa direção. Contudo, é importante consolidar um time específico para discutir problemas e ações relacionados à crise enquanto o restante da companhia segue com foco no desempenho do negócio. “A mensagem é ‘destaque um time para trabalhar na crise’, mas ‘não tenha todo mundo trabalhando na crise’”, explica.
E para que isso seja possível, a análise de dados em tempo real se tornou ainda mais importante. Bersin ressalta o que Diane Gherson, Diretora de Recursos Humanos da IBM, afirma ser capaz de saber sobre um problema da empresa em qualquer ponto do mundo em questão de minutos. Segundo ele, isso está diretamente relacionado ao cuidado da organização com a gestão da informação.
6 – Esteja sempre pronto
A crise desencadeada pela pandemia sem dúvida tem grandes proporções, mas, para Bersin, as organizações enfrentam desafios particulares periodicamente. Portanto, o planejamento contínuo é vital.
“É preciso se planejar ‘para coisas darem errado’ como parte da vida cotidiana. As companhias que fizeram isso estavam prontas para responder. Seguindo em frente, garanta que todos os seus programas, projetos e pessoas sejam ‘desenhadas para a resiliência’”, pontua.
Indo além, o especialista afirma que em sua avaliação todos os investimentos em tecnologias como Inteligência Artificial, People Analytics e nuvem, bem como os esforços em torno da experiência do colaborador e suas jornadas culminaram serviram para preparar as empresas para um momento como esse.
7 – Faça a liderança valer
Acima de tudo, crises reforçam a importância de líderes capazes. Bersin argumenta que atualmente todos estão preocupados com a saúde e segurança pessoal, mas os gestores ainda têm entre suas preocupações o lucro da organização, a segurança executiva e do ambiente de trabalho, a continuidade do negócio e a oferta de políticas éticas a seus colaboradores.
Em meio a tudo isso, o retorno ao trabalho presencial traz mais uma série de decisões para os líderes, em especial dentro dos Recursos Humanos. Ainda assim, Bersin acredita que esses desafios servem em boa medida como inspiração para esses profissionais que foram ainda mais destacados nesse momento.
Por fim, Bersin reconhece que os próximos passos devem trazer decisões difíceis para as organizações e a gestão de pessoas. O processo de retorno ao trabalho presencial faz parte desses desafios, mas, para ele, é fundamental aceitar que as mudanças estão aqui para ficar.
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