O descuido com a saúde mental no trabalho pode interferir tanto na produtividade de um colaborador como no desempenho de toda equipe ou organização. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior número de pessoas que sofrem de ansiedade no mundo. Cerca de 18 milhões de brasileiros convivem com o transtorno.
Diante desse cenário, o especialista Vinicius Ramalho, Médico Psiquiatra da Mancini Psiquiatria e Psicologia, frisa o papel da rotina profissional na vida de cada pessoa. “O trabalho ocupa uma posição central na construção da identidade dos indivíduos, como um elo entre eles e a sociedade. A falta ou perda dessa ligação, e consequentemente de um papel social, pode levar ao sofrimento psíquico para além do comprometimento da independência do indivíduo”, afirma.
Diversos fatores associados ao ambiente de trabalho podem afetar o bem-estar mental de profissionais de qualquer área. De acordo com a OMS, práticas inadequadas de comunicação e gerenciamento, participação limitada na tomada de decisões, horários inflexíveis e tarefas pouco claras são algumas práticas que podem influenciar negativamente o ambiente de trabalho.
O risco de ignorar a saúde mental no trabalho
Segundo o relatório “The Burden of Mental Disorders in the Region of the Americas 2018”, o Brasil também está entre os países com os mais altos índices de depressão (9,3%) e ansiedade (7,5%) das Américas.
Para Vinicius, a rotina profissional pode ter influência sobre esses números. “Os modelos de organização que favorecem a produtividade em detrimento das pessoas têm aumentado a exposição delas ao estresse que, cronificado, pode contribuir significativamente para o seu adoecimento”, explica.
Como consequência desses impactos negativos na saúde mental no trabalho, o especialista explica que é possível notar reflexos claros como queda no engajamento e absenteísmo. Além disso, Vinicius explica que os prejuízos podem surgir mesmo que os sintomas não sejam tão evidentes, por isso a importância de manter sempre a atenção. “Não se pode deixar de contabilizar a diminuição de rendimento de um ou mais profissionais vitimados por transtornos mentais, ainda que eles se mantenham assíduos, presentes”, alerta.
Em suma, mais do que perder horas de trabalho, o psiquiatra avalia que ignorar a saúde mental no trabalho pode desencadear um processo capaz de afetar toda a empresa. “O prejuízo do desempenho pode levar a atrasos ou interrupções de tarefas, serviços e projetos, eventualmente repercutindo negativamente na produtividade e nos resultados da organização”, completa.
Entendendo e cuidando
Vinicius Ramalho recomenda tanto a conscientização de gestores sobre a gravidade do problema como a busca da estruturação de organizações com mais atenção à saúde mental de seus colaboradores. “Devem ser realizadas revisões e buscadas intervenções possíveis nos processos de trabalho de todos, não apenas direcionando medidas específicas aos indivíduos que adoecem. Ainda assim, ações de educação e principalmente de combate ao estigma são particularmente importantes”, salienta Vinicius.
Para ele, exemplos de boas práticas ligadas à saúde mental no trabalho estariam na reintegração do colaborador anteriormente afastado por motivo de doença e em ações voltadas para a valorização desses profissionais. “Isso contribui para reduzir a tensão e a insegurança ocupacional entre os profissionais. Além disso, a promoção da comunicação entre os colaboradores, a constituição e a valorização de equipes de trabalho e a adequação do reconhecimento também são maneiras de promover a saúde mental no ambiente laboral”, finaliza.
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