Não há como negar que a demissão é um momento delicado. Todo ciclo que se fecha traz à tona incertezas e desafios, ainda que se trate de um momento triste e inesperado ou feliz, marcando o começo de uma nova jornada. É justamente devido à importância desse marco que, cada vez mais, as organizações têm investido na humanização da entrevista de desligamento. Esse processo tornou-se importante para empresa e para o colaborador, desde que conduzido de forma profissional, respeitosa e estratégica.
Silvia Cristina dos Santos de Paula, Consultora em Gestão de Pessoas e fundadora da Pessoas, Processos e Tecnologia (PPT), acredita que a entrevista de desligamento representa um grande potencial para as organizações. “É um excelente método para obter informações valiosas e acionáveis, que o ajudarão a atrair e reter os melhores talentos”, alerta.
Confira como humanizar a prática e descubra os benefícios que essa mudança pode trazer para sua empresa.
Entrevista de desligamento: por que fazer?
Para Silvia, quando conduzida de forma correta, a entrevista de desligamento ajuda a estabelecer uma cultura voltada para o diálogo. “Ela representa para as organizações um grande potencial para gerar informações relevantes sobre a cultura empresarial e melhoria dos processos. Por isso, deve ser adotada tanto para casos de demissão quanto para pedidos demissionais”, aconselha.
A especialista aponta que a entrevista de desligamento pode contribuir para baixar a taxa de turnover, já que os colaboradores passarão a perceber que a empresa valoriza a opinião das pessoas que fazem parte dela. “Outro fator importante é entender a visão do colaborador sobre a forma de gestão e estrutura empresarial que é entregue aos funcionários”, explica.
A prática incide em feedbacks mais transparentes, que para Silvia, é justamente o que torna esse processo tão significativo: “Isso porque são uma forma excelente de obter opiniões sinceras do futuro ex-funcionário sobre a empresa, pois, se considerarmos a ausência de vínculos com a companhia, há maior liberdade de expressão e menos medo de possíveis punições ou julgamentos”, revela.
A importância do processo na imagem da empresa
Vale ressaltar que a entrevista de desligamento também desempenha um papel crucial na marca empregadora, porque se a experiência final do funcionário for desagradável, a imagem da empresa pode ser prejudicada, mesmo neste último ponto de contato com o profissional. “Há grandes chances dessa ideia se perpetuar por causa dos aspectos negativos do fim dessa relação e esse funcionário se tornar um detrator da marca”, comenta.
Do mesmo modo, caso a experiência final seja favorável, conduzida de forma respeitosa e empática, esse momento tão delicado pode se tornar uma vivência menos negativa e traumática para o ex-colaborador. “O processo manterá uma imagem positiva construída ao longo de sua experiência ou, até mesmo, melhorando a percepção da empresa”, esclarece a consultora.
Como conduzir uma entrevista de desligamento?
Coordenar uma entrevista de desligamento não é tarefa fácil. Independentemente da demissão voluntária ou vinda da empresa, o ex-colaborador pode vivenciar diversas emoções. Por isso, Silvia defende que a palavra de ordem nas entrevistas de desligamento deve ser empatia.
“Ser empático significa, neste caso, entender que essas emoções podem interferir no modo de se expressar e na maneira de agir, deixando a pessoa que sai muito mais passional do que racional”, explica ela.
Quem faz a entrevista deve estar preparado para esse cenário. “É preciso filtrar os comentários que possam vir por conta do mar de emoções”, aconselha.
Quais perguntas fazer na entrevista de desligamento?
É preciso ter em mente que é essencial obter informações que sirvam de base para ações que visem a melhoria da empresa. “Com os dados coletados e mensurados, é possível criar um plano estratégico para aprimorar os resultados”, acrescenta Silvia.
A partir das respostas apresentadas, o profissional de RH poderá identificar quais são as falhas de gestão de pessoas que levam os colaboradores a se demitirem ou serem pouco engajados. “Para tanto, é preciso direcionar perguntas referentes ao relacionamento com o gestor, com o time e outros públicos de relacionamento”, ressalta.
Também é importante incluir assuntos relacionados à gestão de RH com o objetivo de obter um feedback para a área sobre processos e práticas. “Questões como remuneração, benefícios, treinamentos, plano de carreira e outros pontos devem ser abordados”, completa.
Por fim, Silvia recomenda que se identifique qual é a percepção do colaborador quanto ao ambiente organizacional. “Isso ajudará a melhorar a comunicação na empresa, o espaço de trabalho e o relacionamento entre parceiros e equipes”, completa.
Dicas para uma entrevista de desligamento humanizada
O momento da demissão pode gerar sentimentos como tristeza, frustração e até constrangimento, afinal, trata-se da jornada, sonhos e metas que envolvem a vida profissional de uma pessoa. “Demitir-se ou ser demitido é uma mudança não apenas na carreira, mas também no dia a dia, na rotina, na convivência social e no papel que assumimos até então”, diz Silvia.
Levando esses aspectos em consideração, Silvia destaca ser fundamental que a empresa invista na entrevista de desligamento e torne esse processo mais humanizado, por meio de estratégias como:
1 – Elaborar a entrevista
Para aproveitar esse momento, é necessário planejá-lo, incluindo uma forma de abordagem e um roteiro de perguntas.
2 – Escolher a ocasião
Durante o momento da demissão, é comum que apareçam manifestações como nervosismo e dificuldades de lidar com a situação. Portanto, se essas forem as reações do colaborador, é melhor marcar a entrevista para um outro momento.
3 – Verificar a disponibilidade da pessoa
Depois que você planejou e escolheu a ocasião ideal para a entrevista, verifique se o profissional está disposto a conversar, uma vez que ela não deve ser imposta como uma obrigatoriedade.
4 – Ser compreensivo e filtrar as informações
Durante a entrevista de desligamento, é natural que o profissional queira desabafar e até mesmo falar mal da empresa. Cabe ao responsável pela entrevista filtrar as informações e perceber o que realmente deve ser levado em conta. O ex-colaborador precisa de apoio nesse momento, portanto, é essencial conduzir bem o processo, além de ter uma escuta ativa e fazer tudo muito bem planejado.
Além da entrevista de desligamento, outros processos envolvem a sucessão de colaborador. É preciso fazer o mapeamento das posições-chave, identificando riscos e impactos de perda e preparando os futuros talentos da organização com uma visão de carreira. Para isso, conte com o Gen.te Evolui – Sucessão. Saiba mais clicando aqui.