Reconhecido como peça fundamental na relação entre empresa e colaborador, o propósito se tornou assunto cada vez mais recorrente na busca tanto pela atração e retenção de talentos como por tornar o negócio mais competitivo. Mesmo assim, muitas organizações ainda encontram dificuldade em alinhar o discurso acerca do propósito à prática na rotina do ambiente de trabalho.
Para Vania Ferrari, Sócia da Pensamentos Transformadores, isso está associado ao que ela classifica como uma “gourmetização” do conceito. “Já tivemos a era da ISO 9000, da qualidade total, do SixSigma, da Indústria 1.0 a 4.0 e da Experiência do Cliente. Agora, a moda é falar de propósito no mundo do trabalho”, explica.
Contudo, ainda que o tema tenha ganhado popularidade nos últimos anos, a especialista ressalta que ele é bem mais antigo e que essa percepção é importante para trazê-lo para a realidade da companhia. “Estamos aqui para ‘desgourmetizar’ esse tema, pois ele é mais velho que a Carteira de Trabalho. Na verdade, já buscamos o tal propósito desde que começamos a pensar sobre as nossas carreiras”, pontua.
O que é propósito afinal de contas?
Segundo Anna Nogueira, Sócia da Pensamentos Transformadores ao lado de Vania, o assunto faz parte da vida do profissional a partir do momento em que ele começa a se questionar, ainda jovem, acerca da função que pretende exercer quando mais velho.
Sendo assim, ela esclarece que a forma como o indivíduo trilha seu caminho até a inserção no mercado de trabalho serve de ilustração para seu propósito. Ela afirma que a decisão sobre a profissão desejada leva à escolha de uma formação que comporte aquilo que a pessoa ama fazer.
Dali em diante, essa decisão gera conhecimento para exercer uma profissão à luz de um talento e isso se conecta diretamente com a empresa na medida em que remunera o indivíduo para que ele coloque em prática o que sabe fazer bem.
A influência da missão da empresa
Embora o propósito tenha raízes pessoais, o impacto que as organizações têm na sociedade é que realmente rege a conexão entre profissionais e empresas. “A música já preconizava: ‘A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro diversão e arte’. Ou seja, não queremos só trabalhar por um salário. Queremos fazer algo que seja ‘bom para o mundo’”, ressalta Anna.
Nesse contexto, ela explica que a missão da companhia, sua visão e seus valores são fundamentais no alinhamento com os objetivos dos colaboradores. Como ela recomenda, o funcionário precisa saber como a organização da qual faz parte se posiciona.
“Mais importante que isso, garanta que a sua empresa cumpra essa missão todos os dias e que você, através do seu trabalho, está aplicando (na prática) os valores da organização”, completa.
Nesse sentido, torna-se evidente que o impacto da missão da empresa tem influência direta na conexão com o propósito nutrido pelo profissional. No entanto, Vania Ferrari alerta que a virtuosidade dessa marca causada na sociedade não precisa se restringir diante da busca por resultados e lucratividade.
“Você não precisa necessariamente trabalhar em uma Organização não Governamental (ONG) para fazer do mundo um lugar melhor. Nós acreditamos, inclusive, que quem vai mudar o mundo não é o governo nem a religião. Para nós, quem vai mudar o mundo são as marcas, na medida em que elas atuam diretamente em temas ora esquecidos por essas instituições, tais como inclusão, direitos humanos, justiça e educação”, salienta.
Esforço e recompensa mútuos
De acordo com as Sócias da Pensamentos Transformadores, trazer o propósito para dentro do cotidiano da organização de forma eficaz é um esforço diário. Da mesma forma, ele tende a ser uma tarefa de colaboração mútua entre empresa e funcionário ao passo que exige que o resultado do trabalho seja tão rentável quanto benéfico para o cliente e a sociedade.
Como recomendação para isso, Vania Ferrari reforça a observação constante dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Para ela, é imprescindível que o profissional conheça e participe das ações sociais e de sustentabilidade da empresa, se envolva com essas metas e descubra como o seu trabalho impacta neles.
Segundo Vania, isso tende a ter um efeito igualmente recompensador para as partes envolvidas. “Empenhe todos os esforços para que a sua empresa atue nos ODS de forma estratégica e diretamente relacionada ao seu modelo de negócio, ou seja, que por meio dos seus produtos, serviços e processos, vocês contribuam para um mundo mais inclusivo, justo e rentável, pois essas coisas não são excludentes, muito pelo contrário. O olhar estratégico para essa agenda torna as marcas mais competitivas, com maior atração de investimentos, retenção de talentos e permanência na escolha dos clientes e da sociedade.”, esclarece.
Da mesma forma, Anna Nogueira reforça que, uma vez que o propósito esteja devidamente alinhado aos valores organizacionais, trabalhar por ele vai tanto inspirar o profissional quanto trazer mais rentabilidade, produtividade, margem de lucro e crescimento para empresa.
Como efeito, ela avalia que essa humanização não só garantirá o emprego de todos que trabalham na mesma organização, mas também uma vida melhor e mais justa para todas e todos impactados por ela.
Assim, a especialista pontua que zelar por uma cultura organizacional que realmente inclua as pessoas no processo e traduza esses valores em suas rotinas é a chave para perpetuar um círculo virtuoso de resultados positivos. “Com isso, seu propósito vai tomando corpo e cor, porque você unirá seu trabalho diário com ações que fazem do mundo um lugar justo, belo e bom”, completa.
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